Murielle COMPERE-DEMARCY

Murielle COMPERE-DEMARCY

Murielle Compère-Demarcy (que às vezes também assina com seu pseudônimo de escritora MCDem.) começou a querer publicar em 2014, após estudar Literatura e Filosofia e ter trabalhado como livreira. Atualmente é professora-documentalista. Suas últimas publicações: Alchimiste du soleil pulvérisé (poema para Antonin Artaud), Dans les moors de Hurle-Lyre, L'écaille rouge seguida por Prière pour Notre-Dame de Paris & Hurlement e Voyage Grand-Tournesol nas edições Z4. Em 2018 Coupure d'électricité foi publicada pela Éditions du Port d'Attache, dirigida por Jacques Lucchesi, onde publicou, em 2020, Confinés dans le noir, ao declinar temas recorrentes distorcidos ao contexto atual da nossa sociedade. Paralelamente ao seu trabalho de escrita, tenta aproximar-se de outros universos poéticos como leitora-poeta. https://www.courrier-picard.fr/id407770/article/2023-04-21/le-livre-cri-de-murielle-compere-demarcy


O jogo que está na base da cantiga infantil "Loup, y es-tu?" é aqui retomado em uma dimensão poética, com uma transformação de gênero (a loba em vez do lobo...). Dito isso, uma ambiguidade equívoca se mantém entre a personagem da loba, a tradicional do lobo e "Ce grand méchant vous" cantada por Serge Gainsbourg... Data de publicação: 1º de maio de 2023. Encomendar


Laurent Boisselier


Foi quando se estabeleceu em Hong Kong, e depois na Bolívia, que Laurent Boisselier descobriu as viagens. Desde então, ele continuou a viajar pelos cinco continentes e a fotografar o mundo. "Um caminhante solitário, ele anseia tanto por encontros com os outros quanto consigo mesmo."

Comandante

Data de lançamento: 15 de março de 2021

Uma poderosa continuidade se perpetua – e se aprofunda – na obra de MCDem., a de um duplo movimento que une o mergulho no mistério do ser e a expulsão do "grito/poema primordial" nos pântanos de Uivo-Lira*. Essa dualidade dialética afasta o olhar e nos obriga a ver e admitir uma nova lucidez.
Murielle Compère-Demarcy nos permite, por um lado, testar o impulso da realidade que – ao contrário do que todas as aparências podem nos levar a crer – nunca está em repouso. Ela o desdobra em um movimento onde “giram folhas emaranhadas”, onde “o rabirruivo brilha/do cálido lar secreto das auroras/ao lar avermelhado dos crepúsculos”, “onde as palavras/sopros motores e reativos/sinalizam às asas do desejo/fugitivos e fugitivos”, onde “a escrita corre nos interstícios/do raio verde/na loucura vermelha da noite/teu poema tece sua teia lunar/(…) suas palavras de sangue e poesia azul/no oceano do texto/uma vela/inflada na cerca da vertigem/empurrada em direção ao mar aberto”… O leitor se depara, assim, com o dilema de se desprender do poema para retomar o preguiçoso cotidiano da ilusão,
Por outro lado, e na mesma linha, como as poetisas da transcendência, sua escrita é posta em contato com o que nos atravessa, fazendo assim com que a experiência se realize na alma e, a partir dela, nesta pena que "escreverá a lágrima". Numa mise en abyme desorientadora, o poema espelhado dá um grito à sua própria expulsão, à maneira do brilho, ao ponto limite do seu próprio início. Cada poeta autêntico tem um ritmo e uma visão que estabelecem a sua especificidade, a sua singularidade irredutível. Abrindo Dante, Lautréamont ou Artaud, mergulhamos num universo que pulsa segundo um único coração. O mesmo se aplica a Murielle Compère-Demarcy. Lê-la é oferecer-se a uma separação – do olhar, do coração, da mente, da respiração. Lê-la é viver uma experiência poética total, constituída pelo mergulho nos abismos do ser.
Mas isso, esse mergulho, em sua dualidade dialética, não engendra uma fusão, mas um encaixe² do ser e da realidade – ambos se unindo, mas cada um preservando sua própria alma. Estamos aqui no mais puro mistério, até mesmo um misticismo, onde se descortina essa nova aurora, que constitui “a insurreição finalmente do amor e da aurora/ que unem as margens”. Um desvelamento lúcido trouxe à luz o movimento pelo qual interioridade e exterioridade se nutrem mutuamente: “Poema-Grito/primário que se expele/Cosmos Único/Poema-Mundo/para o mundo”.
O movimento da escrita é, portanto, o destaque de um enigma, vital e, ao mesmo tempo, indubitavelmente verdadeiramente insolúvel, o da própria fonte da Palavra que nutre o poema. A poesia ilustra seu alcance – em todos os sentidos que este termo pode evocar – em versos magníficos, como: "A coluna de ar sobe e viaja/sugada pelo sopro do cosmos universal/pelo vórtice das estrelas da Linguagem/A Poesia entrega sua alma/ao lodo da fala."
Esse impulso existencial – e cósmico – semelhante ao “caos” nietzschiano que se busca fazer “virar forma”, é constantemente uma maiêutica do Verbo que cada poeta carrega – a despeito de si mesmo, sempre sem ser de modo algum responsável pelo que potencialmente reside na alma –, uma “Tempestade concebida no ventre do sol/enquanto entre lábios e febre/permanece a busca do Verbo/experimenta o Viver”. Esse “ventre do sol”, sempre em ação, deixa passar por ele constantemente a vasta energia cósmica que nutre os grandes criadores e os grandes místicos.